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“Tele-marketing"

  • Foto do escritor: Marcelo Madeira
    Marcelo Madeira
  • 28 de jan. de 2017
  • 2 min de leitura

Já estava atrasado quando toca o telefone. Pelas barbas do profeta, eu pensei. Não é hoje que eu consigo sair de casa. Hesitei, mas achei por bem atender a ligação. No outro lado da linha um desses operadores de “tele-marketing”. Tentei disfarçar dizendo que o dono da casa não se encontrava. Mas ele, muito simpático, desatinou o que parecia ser um texto já decorado:


- Boa tarde, dentro de alguns dias o senhor vai estar recebendo em sua casa um formulário para poder estar participando do nosso mais novo concurso. Somos a empresa “Tudo em cima”, especializada em equipamentos de exercícios. Se o senhor conseguir estar respondendo algumas poucas perguntas nossa empresa vai estar enviando ao senhor uma confirmação do cadastro por escrito e um formulário que deve estar sendo preenchido para poder estar ganhando uma esteira inteiramente grátis “Top de Linha”.


- Um momento, meu rapaz. Que história é essa?


- O senhor vai estar recebendo em sua casa um formulário...


- Não, não. Isso eu entendi, quer dizer, acho que entendi. Ah...Sei lá, entendi mais ou menos.


- Posso estar explicando pro senhor.


- Não, pode deixar. Eu entendi. O formulário, o cadastro. Até aí tudo bem. O que eu não entendi é essa presepada toda.


- É um concurso que vamos estar realizando...Se o senhor puder estar...


- Que mania, meu rapaz!


- Pois não?


- Deixa pra lá. Quem escreveu este texto sobre o concurso?


- Como assim?


- Esse texto? Foi você quem escreveu este texto?


- Ah, não, esse texto vem lá de cima, ordens superiores...


- Pior ainda.


- Pois não?


- Nada não, esquece.


- Então? O senhor pode estar respondendo algumas perguntas, coisa de três ou quatro?


- Não, não, assim não dá. Este texto que lhe deram está muito esquisito.


- Como assim?


- Esquisito essa coisa de sempre colocar três verbos na mesma frase. Que coisa! Você pode simplificar tudo isso. Seria muito melhor assim: Você pode responder algumas perguntas?


- Pois não. Quais?


- Quais o quê?


- Quais perguntas?


- Pelo amor de Deus, este é só um exemplo de como você poderia simplificar a frase.


- Ah, sim.


- Preste atenção, ao invés de dizer “vou estar lhe enviando uma confirmação do cadastro...” você pode dizer “nós lhe enviaremos uma confirmação do cadastro”. Simples, não?


- Um verbo só?


- Só.


- Puxa, então no caso de “o formulário deve estar sendo preenchido...”


- Vixe! Aí já é demais! “O formulário deve ser preenchido” já tá de bom tamanho.


- Mas, são três verbos.


- Sim, mas tira o gerúndio.


- Tira quem?


- Deixa para lá.


- Podemos então, estar...(pausa) enviar o formulário?


- Olha, meu rapaz, estou na minha hora. Estava de saída quando o telefone tocou. E sabe do que mais? Eu vou estar analisando a sua proposta e vou estar dando um retorno assim que possível.


Ops! Essa coisa pega!





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 O Autor 

 

 

Sagitariano, publicitário, escritor músico, alfabetizador, assistente social e Mestre Reiki . 

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