Critica literária
- Marcelo Madeira
- 2 de mar. de 2017
- 2 min de leitura

- Pois veja bem, meu jovem. Caso queira ser um escritor é preciso ler muito. Ler de tudo. Até bula de remédio. Você gosta de ler, não é mesmo?
- Sim, gosto muito. Principalmente...
- E posso saber que tipo de literatura o jovem escreve?
- Escrevo contos.
- Ah! Adoro contos. Minha especialidade. Contos de qualquer gênero, crime, melancólicos ou de humor. Tenho predileção por contos de Florêncio Flores, Juca Jaca, Tibúrcio Neves, mas o meu preferido mesmo é Joaquim Mérito. Adoro todos, todos, todos os contos de Joaquim Mérito. Conheço cada linha de seus contos, não me espantaria se eu os conhecesse melhor do que ele próprio. E você? Qual é o seu autor predileto?
- Ora! São tantos...
- Um bom escritor deve ser antes de tudo um bom observador. Ter a sensibilidade à flor da pele e principalmente amar a solidão. Deve se isolar, nada de agito ou baladas, isso só serve para quem quer escrever coluna social. O bom escritor deve estar sozinho acompanhado somente de sua solidão. “A solidão é a oficina de idéias”, disse um dia algum escritor que não me recordo o nome.
- Machado de Assis.
- Sim, Machado de Assis, ele mesmo. Eu iria lembrar, era só questão de tempo. Mas que motivo o traz aqui meu jovem? Veio apenas me dizer que quer ser escritor?
- Sim, como eu lhe disse quero ser escritor.
- Então o seja. Para ser escritor basta escrever, mas para ser um bom escritor...Ah, para isso tem de ter muita tarimba.
- Eu gostaria que o senhor me desse uma chance...
- E o jovem tem alguma coisa aí que eu possa ler?
- Ah, sim. Tenho um conto aqui que eu...
- Passe-me isso, deixa-me ver.
- Pois não.
- Hum...hum hum...hum...Só isso? Um pouco curto. Eu vejo aqui uma série de pequenos detalhes a serem refeitos. E você poderia desenvolver mais o personagem. A frase que inicia o quinto parágrafo está um pouco confusa. Esse conto lembra os contos de Rubião Torres, não é plágio não? Quem descreve personagens assim é Joaquim Mérito, mas com muito mais sutileza. O final está um tanto aberto seria melhor concluir de uma forma mais contundente. Você ainda é muito jovem, tem muito que aprender. Leia mais. Principalmente Joaquim Mérito, leia tudo dele, ele é uma escola... Porque você está anotando tudo que lhe digo? De certo vai chegar em casa e levar em consideração todas as minhas dicas. Pois faz muito bem.
- Na verdade não. Anoto tudo que o senhor me diz para mais tarde enviar ao autor do conto. Suas dicas podem lhe ser úteis um dia. Aposto que o senhor gostaria de saber quem é o autor.
- Não é você?
- Não. Esse conto é do próprio Joaquim Mérito.
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