O dia em que os homens pariram

O que aconteceria se homens e mulheres trocassem os papéis? Seria o caos? Ou veríamos enfim prevalecer a ordem e a tranqüilidade tão escassa nos dias de hoje? Talvez nada mudasse. Ou mudasse pra pior. Pior para os homens.

Na cozinha, eles, os destemidos, seriam capazes de ter um chilique ao encarar a louça suja da noite anterior. Fariam a cama e, mesmo assim, os lençóis permaneceriam amarrotados. Preparariam o café fresquinho cheio de boas intenções, porém ralo, coado em meias.

As mulheres, não obstante, decididas e frajolas, investiriam na bolsa de valores, no overnight, no mercado de futuros e multiplicariam seus lucros. Administrariam seus negócios com a mesma experiência milenar que administravam seus lares.

Enquanto isso, atarantados, os homens mal conseguiriam administrar o próprio dia. No supermercado não teriam o mínimo faro para as ofertas da semana e voltariam com a mesma margarina que já havia na geladeira. No trânsito prevaleceria o ditado: “Homem ao volante perigo constante”.

Filas quilométricas se estenderiam nas portas dos banheiros, já que agora, todo mundo faria xixi sentado. À tardinha, ruas apinhadas com carros em filas duplas esperando os filhos nas portas das escolas.

À noite, o saldo: crianças desnutridas e mal humoradas, a casa num desleixo só e os maridos em pandarecos.

A mulher, confiante de si, chega do trabalho, beija o marido e os filhos e, ao sentar-se na poltrona com o controle remoto em punho, vai logo dizendo:

– Benzinho, tive um dia daqueles – e acomodando os pés na almofada continua – Já que você passou o dia todo em casa, por que não me apanha uma cervejinha enquanto assisto à novela das oito?

#crônicas