Vernissage
- Marcelo Candido Madeira
- 25 de set. de 2015
- 2 min de leitura

– Ok. Combinado. Nos vemos, então, às oito horas em frente ao Cinemax. Pode deixar. Tchau, até lá! – Pronto, minha noite já estava ganha. Sentia sempre muita satisfação em sair com ela. Não éramos namorados, éramos apenas ficantes, e isso me excitava muito mais. Agora só me restava procurar um passatempo, pois ainda eram seis da tarde e não valeria a pena re-tornar a casa com o trânsito infernal desta cidade.
Foi então que vi do outro lado da rua um movimento em frente a uma galeria de arte. E pensei que poderia ser uma boa idéia dar uma espiada, tomar um aperitivo e se tivesse sorte, tomar um vinho francês que servem sempre em eventos do gênero.
Ao entrar já havia muita gente no saguão. Todos em pequenos grupos entretidos em conversas que eu não conseguia identificar muito bem. Logo na entrada já havia a mesa dos salgadinhos e um garçom de gravata borboleta me serviu o tal vinho francês. Não deixei de notar que todos estavam bem vestidos, e foi aí então, que me senti um pouco alheio, mas logo pensei: Desencana! Eu poderia ser um artista num estilo mais despojado. E continuei o meu passeio.
Mais adiante me deparei com uma tela em branco sem nenhuma plaqueta ou nada, e pensei: Deve ser um espaço vago a outros quadros que virão. Mas logo em seguida vi um quadro inteirinho pintado de vermelho, outro pintado de marrom e outro todo de verde. Ao lado, uma sobreposição de quadros pintados em branco e preto. Olhei surpreso ao redor para me certificar se o que eu estava vendo era verdade. E pude constatar mais quadros do gênero. Olhei para as pessoas e todas estavam entretidas em animados papos cabeça. E apontavam para os quadros parecendo estudá-los e se mostravam muito orgulhosas. E eu ainda ouvia comentários entusiasmados: Essa exposição é o “must”!
Aproximei-me de um dos quadros para ver algo que poderia não estar vendo. Colei o rosto na tela e vi apenas fissuras causadas pela tinta já seca e nada mais além. Novamente não havia nenhuma plaqueta com data, nome do quadro ou do artista. Afastei-me contemplando-o mais de longe, talvez houvesse algo camuflado para olhos desatentos. E nada.
No canto da sala havia um aglomerado de pessoas e cheguei mais perto por curiosidade. Dois spots de luzes iluminavam o que parecia ser um pedestal. As pessoas pareciam muito interessadas e se espremiam para poder ver melhor. Eu, novamente não via nada. Aproximei-me com delicadeza pedindo licença e depois de alguns segundos de contemplação não resisti e perguntei ao senhor que estava ao meu lado.
– Do que se trata?
– Você não esta vendo? É uma escultura.
– ?
– Este é um artista muito conceituado – continuou o senhor – suas peças são caríssimas e esta é sua obra prima, a escultura de ar.
– A escultura de quê?
– De ar. Ele esculpiu o ar.
– Ora vejam só. Quem diria? – E saí de mansinho sem que ninguém reparasse na minha ignorância e pensei: Eu realmente não estou pronto para a arte contemporânea. Não entendo absolutamente bulufas. Neca de pitibiriba.
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