O peso da eternidade
- Marcelo Candido Madeira
- 23 de set. de 2015
- 2 min de leitura

Trabalhadores, de toda a parte, surgiam aos gritos com foices e tochas em punho. A caravana enfurecida estava disposta a invadir o castelo daquele que durante séculos sugara a vitalidade do vilarejo. A criatura que vivera da exploração do trabalho alheio. O filho das trevas que cobrira com o manto da noite eterna os sorrisos dos jovens mais esperançosos.
Ele se julgava, e era de fato, o soberano. Condenava sem piedade homens, crianças, mulheres e idosos a trabalharem por horas a fio em suas indústrias erguidas em cimento tosco. Ele era o rei, o patrão, o legislador das leis.
Num dos luxuosos cômodos do castelo, podia-se ouvir o clamor da multidão. A lua rarefeita, esbranquiçada. Ele, deprimido, estirado sobre a poltrona vermelha, já sabia que fim o esperava. Pois tinha ciência que nenhuma força sobrenatural poderia sufocar milhares de bocas famintas por liberdade. Além disso, a multidão utilizava armas contra as quais o soberano não tinha nenhuma imunidade. Alhos, crucifixos, estacas de madeira e o mais importante: a consciência de serem capazes de restabelecer a ordem com as próprias mãos.
O conde já estava cansado. Durante toda a vida (uma eternidade) mandou e desmandou naquele vilarejo. Fora o senhor das almas e sozinho governou sob o signo do crepúsculo. Viveu da tortura e dos suplícios.
Com o queixo apoiado sobre a mão, meditava. Ao perceber que não teria mais como lutar, o conde tentou se convencer às pressas de que a eternidade é um tédio, um eterno vazio.
Os gritos ensandecidos da multidão se aproximavam. O perigo espreitava à sua porta. Homens e mulheres jogavam paus e pedras contra as vidraças. E ao ver todo o seu império desabar sobre sua cabeça, Drácula constatou:
"Não há tristeza que dure para sempre, nem felicidade que nunca se acabe".
Foto do ator Bela Lugosi no filme Drácula de 1931
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