Fagulhas de vida
- Marcelo Candido Madeira
- 14 de set. de 2015
- 2 min de leitura

A vida é como a fagulha que se solta de um riscar de fósforos. Ao se transformar em fogo, já não é mais vida. Já se foi a fagulha. Não importa se vivemos até os trinta ou se só vivemos antes dos vinte. Porque há várias maneiras de vida. Há quem leve a vida e há quem a vida leva. Um amigo meu me disse que só se tem a noção do que é abstrato a partir dos vinte. Deve ser a tal percepção holística que acende crises de existência.
A maturidade, dizem, vem aos trinta apagando a inocência e com ela brotam as saudades, já se fala em décadas, já se contam nos dedos, já se roem as unhas. Famosa a expressão que a vida só começa aos quarenta.
Quem acredita nisso, até os quarenta vegeta. E quem nem chegou aos quarenta? Ou quem nos quarenta parou? Os cinqüenta estremecem como estremece aos ignorantes a sabedoria. As brancas têmporas de tão brancas abalizam o tempo. Nada é tão mais veloz como outrora, porém tudo é mais preciso.
Aos sessenta se aposenta aquele que quer manter acesa sua fagulha, perpetuar o momento antes do fósforo se queimar. Pois, aos sessenta, vive-se a segunda adolescência com a vantagem de se ter mais ciência com muito mais elegância e decência. Aos setenta se tenta de novo, porque tudo é um recomeço, é o colocar de pé o ovo. Quem oitenta anos completa conhece a contemplação da roda que gira em torno de si, a santa afirmação. Já se vê melhor o passado, mas também o futuro.
Aos noventa tudo é lucro, é a felicidade e o prazer de ver nascer mais uma geração. Pois, em qualquer momento, seja ele qual for, no mais efêmero momento, de onde reluz uma fagulha, experimentamos o sentido da vida. E o sentido da vida nada mais é do que aquilo que a vida nos faz e quer nos fazer sentir.
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