Os Sofistas
- Marcelo Candido Madeira
- 13 de set. de 2015
- 3 min de leitura

O Instrumento da democracia
No século V a.C., conhecido como o Período Clássico, o mundo grego vivia seu apogeu sócio, econômico, político e cultural. E foi justamente nessa época que se desenvolveram as pólis ou cidades-estados.
A partir das reformas de Clístenes surge a democracia, uma forma de governo baseada na isonomia, com uma maior participação dos cidadãos gregos. Apenas os estrangeiros, escravos e mulheres não exerciam a política.
O domínio da expressão verbal, a articulação de longos discursos e da retórica, acentuam-se com a necessidade dos homens exporem suas idéias. Os foros, os tribunais e as praças públicas ficavam cheios de homens com discursos inflamados, tentando persuadir seus interlocutores, mudar idéias e pontos de vistas. Surge assim, a arte da persuasão e da oratória, a habilidade do homem em manusear as formas de argumentação acentuada no domínio da eloqüência e da gramática.
É nesse contexto de ebulição cultural que surge os sofistas, homens de retórica, instrumento indispensável na assembléia democrática.
Um discurso sofisticado
O ambiente democrático das pólis propiciava as discussões em torno do homem e seu meio. A questão da cosmologia e a busca da arché (o princípio de todas as coisas), presentes no pensamento pré-socrático, não é mais preocupação corrente para classe emergente de comerciantes. Há um novo interesse em levantar questões de cunho antropológico, político e moral.
No regime aristocrata a virtude Areté era Ética, enquanto para os cidadãos participantes da pólis, a Areté era Política, e tinha a sua maior expressão na Justiça. As leis escritas delineavam os critérios do justo e do não justo. Cabia, então, ao homem da pólis desdobrar as leis.
Surge, assim a necessidade de refutar opiniões, contradizer, criar certa inquietação para que se possa, no final, levar os ouvintes a aceitar novos critérios.
No discurso político a persuasão é o elemento chave. Etimologicamente, a palavra per + suadere vem do latim remoto e significa aconselhar, resolver, decidir, determinar. Os sofistas, de certa forma, contribuem para o debate sobre o homem e sua cidadania. Eram pessoas estudadas, mestres da virtude política e da retórica, que em troca de moedas discursavam aos cidadãos. Elaboravam questões pertinentes ao homem independente de sua linhagem divina. Ensinavam que o certo e o errado, o bem e o mal tinham de ser medidos de acordo com a necessidade do homem.
O fato de fazer do ensino um ofício, pois os sofistas eram comerciantes e não aristocratas, levaram os filósofos a chamá-los de mercenários do saber. Acusavam a sofística de terem um discurso oco, verossímil, cheio de imagens, metáforas e palavras de efeito, ou seja, para os filósofos, os sofistas estavam mais atentos à defesa de suas idéias do que propriamente a verdade em si.
E de fato, há um talento, nos sofistas, para manusear a linguagem, criar lógicas que são próprias apenas em determinadas realidades e não no real em si. A capacidade de articular frases de efeito, imagens e metáforas usando a linguagem como a expressão do aspecto da realidade. O recurso lúdico já se manifestava nas rapsódias gregas que cantavam os poemas épicos de Hesíodo e Homero, e tem no discurso dos sofistas um papel decisivo na habilidade argumentativa.
Por essas, e por outras que eu digo, no mundo hoje há mais sofistas do que filósofos.
O que diz o dicionário:
Sofista. [Do gr. sophistés, “sábio”, posteriormente “impostor”, pelo lat. Sophista.] S. 2 g. 1. Filos. Cada um dos filósofos gregos contemporâneos de Sócrates que chamavam a si a profissão de ensinar a sabedoria e a habilidade, e entre os quais se destacam Protágoras (480-410 a.C.), que afirmava ser o homem a medida de todas as coisas, e Górgias (485-380 a. C.) que atribuía grande importância à linguagem. Os sofistas desenvolveram especialmente a retórica, a eloqüência e a gramática.
Sofisticar. [de sofístico + ar] V. t. d. 1. Sofismar 2. Falsificar, contrafazer, adulterar. 3. Tratar com sutileza.
Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2a. edição. Editora Nova Fronteira. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.
Comments